terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Capítulo 1 - Sexta parte
Os dias deram lugar a semanas, as semanas a meses e na relação que era bela ao início começou, a pouco e pouco a ser notório que as coisas já não estavam assim tão bem...
Sem se aperceber, João voltara aos seus problemas, à sua inadaptação. Parecia que onde estava nunca era onde queria estar, o que fazia nunca era o que queria fazer. Teresa tentava como podia aliviar-lhe aquela tensão mas, os seus esforços eram em vão... João escorregava cada vez mais pela falta de amor próprio. Acontecesse o que acontecesse, nunca estava satisfeito com o que conseguia, depois de alcançar o seu objectivo, ficava sempre com um amargo de boca, com a sensação de que não era aquilo que queria, uma sensação de tristeza, frustração e ao mesmo tempo vazio...
Tinha sempre a sensação de que faltava algo... que havia algo mais reservado para si do que a vida que levava e não saber o que era frustrava-o.
Teresa tentava a todo o custo conforta-lo e alivia-lo mas, os seus esforços eram em vão. Tentava entende-lo, compreende-lo mas, era inútil. Não conseguia.
Na verdade, era um esforço inglório, estava a tentar compreender algo que nem o próprio João conseguia compreender... nem um, nem outro sabiam o que se passava.
Teresa chegou a sugerir irem juntos a psicólogos, a sessões de aconselhamento, o que quer que fosse para as coisas melhorarem.
Uma vez e outra, as suas propostas foram sendo recusadas... João apenas dizia (e tinha certeza do que dizia):
-Não é preciso, é perda de tempo. Não sei o que tenho, é verdade. Mas sei que não é com consultas que se pode resolver.
-Mas temos que fazer alguma coisa, João! Eu não aguento mais ver-te assim! É como se já não te conhecesse... já não és o mesmo por quem me apaixonei... - disse Teresa soluçando.
Foi então que com grande tristeza sua, João se apercebeu da dor que estava a causar. Andava tão absorto nos seus problemas e pensamentos que nem se apercebera o quanto estava a ser egoísta.
Sem dizer nada, avançou de lágrimas nos olhos em direcção a Teresa. Abraçou-a profundamente e, nesse longo abraço, encontraram o consolo que andavam à procura... choraram, acariciaram-se, beijaram-se... sempre em silêncio.
No dia seguinte, João anunciou a sua decisão:
-Amor, tenho uns dias de férias para gozar... e decidi goza-los agora. Vou para o Alentejo, para o campo. - disse cabisbaixo.
-Eu já esperava isto... sempre pensei que me incluísses. - constatou Teresa.
-É mesmo por pensar em ti que vou para lá. Vou à procura de mim mesmo, passar uns dias sozinho, tentar entender o que se passa comigo...
-Ok, já percebi. Se achas que isso te pode ajudar, força! Espero que melhores mesmo. Quando voltares conversamos e vemos o que fazer daqui para a frente... - disse Teresa com uma lágrima teimosa ao canto do olho e o queixo a tremer.
-Daqui a uns dias estarei de volta. Vais ver que passa num instante.
João foi para o quarto, pegou na mochila e, de saída deu um longo abraço e beijou demoradamente Teresa.
Já no comboio, não conseguia bloquear algo que sentia... era como se soubesse que, de alguma forma, as coisas nunca mais voltariam a ser aquilo que tinham sido. Quer entre si e Teresa, quer em tudo o que estava relacionado consigo próprio...
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Livro do fim
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4 comentários:
Inti,
Afinal voltaste mesmo!
Uma "viagem de reflexão" é optima para tomar decisões que estão "submersas" há muito tempo e quebrar situações que se tornaram intoleráveis.
Beijinhos
I told you I would.
Tens toda a razão. Espero que tenha valido a pena a espera por esta sexta parte.
Beijinhos
Gostei do texto! (tive de ler para trás, para perceber o seguimento)
Também concordo que indecisões e insatisfações não se resolvem com psicólogos... sejam elas quais forem!
Beijinhos!
Pois, esta história já vem de trás.
E, esta sexta parte, encerra o primeiro capítulo.
Obrigado por te teres dado ao trabalho de ler tudo desde o princípio, Teté.
Beijinhos!
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